Mas a nossa viagem é, por vocação, a da música! E, desta feita, o caminho foi-se fazendo longo, mas o desgaste que o corpo acusava, tinha, a cada investida do canto, o seu inverso ao encher-nos a alma. Assim, o calor da hospitalidade das gentes de Vila Flor (de que ficou a marca) fez com que estas outras gentes (os viandantes do canto) se aguentassem, sem esmorecer, até ao fim e, quando o canto cessou, honraram-nos com elogios e oferendas. Mas a prenda maior foi o abraço irmão à despedida.
Ficou a promessa de voltar!
"Que viaje à roda do seu quarto quem está à beira dos Alpes, de Inverno, em Turim, que é quase tão frio como Sampetersburgo — entende-se. Mas com este clima, com este ar que Deus nos deu, onde a laranjeira cresce na horta, e o mato é de murta, o próprio Xavier de Maistre, que aqui escrevesse, ao menos ia até o quintal. Eu muitas vezes, nestas sufocadas noites de Estio, viajo até à minha janela para ver uma nesguita de Tejo que está no fim da rua, e me enganar com uns verdes de árvores que ali vegetam sua laboriosa infância nos entulhos do Cais do Sodré. E nunca escrevi estas minhas viagens nem as suas impressões: pois tinham muito que ver! Foi sempre ambiciosa a minha pena: pobre e soberba, quer assunto mais largo. Pois hei-de dar-lho. Vou nada menos que a Santarém: e protesto que de quanto vir e ouvir, de quanto eu pensar e sentir se há-de fazer crónica."