sábado, 18 de dezembro de 2010

CANTO DÉCIMO - 14 anos de canto!




A 17 de Dezembro assim nos escreveu o nosso Director Artístico (e amigo) Guilhermino Monteiro:

"Em dia pós-aniversário do Canto Décimo e numa breve reflexão (no meio das mil tarefas burocráticas de fim de período) apraz-me escrever: o Canto Décimo é para mim um espaço de resistência a uma sociedade a apodrecer. Existe um vazio, um oco social. Quando assim é, e isto passa-se em todas as áreas (mais visivelmente na política) uns, os competentes afastam-se, e o oco é preenchido por toda a espécie de incompetentes e oportunistas. Outros, resistem, e não permitem a entrada a gente de 2ª, 3ª categoria, e outros, inqualificáveis. Cria-se então um nicho de resistência. Por isso, toda esta gente que criou e integra o Canto Décimo há quatorze anos tem um valor humano que é incalculável. Segue-se que eu olho para este grupo com os olhos de quem vê nele uma necessidade cultural num país "desculturado", como dizem os autores do livro do Zeca.*
Um abraço a quem reconheço qualidades humanas e artísticas que validam a actualidade e a necessidade do Canto Décimo."

Guilhermino


* Guilhermino Monteiro, José Mário Branco, João Lóio e Octávio Fonseca (2010), "José Afonso - Todas as Canções", Ed. Assírio & Alvim - ISBN 9789723715675



sexta-feira, 19 de novembro de 2010

João Lóio – Dívida impagável

A amizade é feita da mesma matéria dos sonhos e a interpretação só lhes castra a sua forma primeira para não mais serem os mesmos.

Por isso, que interessa se a água que escorre dos sonhos pode ser desejo carnal, se foi a sua frescura, e não o “calor”, que matou a nossa sede?


Por isso, que interessa fazer a economia da amizade e tentar saldar dívidas que não se podem pagar?

Vantagem tem a arte, pois da matéria dos sonhos e da amizade nos dá a mesma amizade e os mesmos sonhos, tal qual como eles são, e neles a água até pode ser uma névoa, ou quente ou fria, ou nem uma coisa nem outra, e nessa mesma matéria a amizade pode-se retribuir plenamente com o cantar.


E se os sonhos se desfazem em água quando acordamos, mais vale sonhar acordado e cantar a amizade que nos une.


Por tudo isso, e muito mais, cantemos João Lóio!

domingo, 30 de maio de 2010

Viagens na nossa terra (Vila Flor)

Por se fazer valer o título de uma obra maior da nossa literatura (de Almeida Garrett), ao iniciar este ciclo de viagens, não pode deixar de se prestar o devido tributo para que essa razão sirva também de estímulo a outras viagens através das leituras.

Mas a nossa viagem é, por vocação, a da música! E, desta feita, o caminho foi-se fazendo longo, mas o desgaste que o corpo acusava, tinha, a cada investida do canto, o seu inverso ao encher-nos a alma. Assim, o calor da hospitalidade das gentes de Vila Flor (de que ficou a marca) fez com que estas outras gentes (os viandantes do canto) se aguentassem, sem esmorecer, até ao fim e, quando o canto cessou, honraram-nos com elogios e oferendas. Mas a prenda maior foi o abraço irmão à despedida.
Ficou a promessa de voltar!


"Que viaje à roda do seu quarto quem está à beira dos Alpes, de Inverno, em Turim, que é quase tão frio como Sampetersburgo — entende-se. Mas com este clima, com este ar que Deus nos deu, onde a laranjeira cresce na horta, e o mato é de murta, o próprio Xavier de Maistre, que aqui escrevesse, ao menos ia até o quintal. Eu muitas vezes, nestas sufocadas noites de Estio, viajo até à minha janela para ver uma nesguita de Tejo que está no fim da rua, e me enganar com uns verdes de árvores que ali vegetam sua laboriosa infância nos entulhos do Cais do Sodré. E nunca escrevi estas minhas viagens nem as suas impressões: pois tinham muito que ver! Foi sempre ambiciosa a minha pena: pobre e soberba, quer assunto mais largo. Pois hei-de dar-lho. Vou nada menos que a Santarém: e protesto que de quanto vir e ouvir, de quanto eu pensar e sentir se há-de fazer crónica."
"Viagens na Minha Terra" (1846)
Almeida Garrett

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Viagens e Canções



Em terras, outrora, de “Além Sabor”, poderá agora encontrar-se um outro paladar (ou, melhor dizendo, um outro aroma), já não o de Castela, mas desde D. Dinis que é de flores – conta-se que por ali passou, ao encontro de sua amada D. Isabel de Aragão (rainha que se fez santa também pelas flores: “são rosas senhor”), e deu nome àquela póvoa.


Ficamos sensibilizados pelo gentil convite dessa vila florida que fica lá no alto do Douro por de trás dos montes: nada menos que Vila Flor. Por isso também fazemos tensões de percorrer o mesmo caminho deste Rei-Poeta e com o mesmo fito: encontrar o nosso amor!


Será fácil adivinhar que o nosso amor, que todos partilhámos sem haver traição (!) – e essa partilha é que justifica, paradoxalmente, a fidelidade –, reside numa afeição comum: a nossa música. E maior será o nosso amor se maior for a congregação em torno dessa partilha!

Assim, no fim do mês de Maio (Sábado 29, às 21 horas), o Centro Cultural desta Sede de Concelho do distrito de Bragança, será palco para a divulgação da obra de cantautores como José Afonso, José Mário Branco, João Lóio, entre algumas modas de travo e cariz popular e, para terminar, as canções heróicas de Fernando Lopes-Graça.


Por isso estendemos o convite que nos foi dirigido a todos aqueles que, para além das viagens na nossa terra, apreciem o encontro com a nossa música.


quinta-feira, 29 de abril de 2010

É deste tipo de memórias que se faz a história


O momento:


36.º aniversário do 25 de Abril, em Ovar - Grupo Vocal Canto Décimo cantou e lembrou Abril


”Com o Auditório do Centro de Artes decorado por uma moldura humana que ajudou a dignificar o espectáculo "Cantar Abril", integrado nas comemorações do 36.º aniversário do 25 de Abril em Ovar, o Grupo Vocal Canto Décimo não só cantou, como lembrou Abril, porque, como disse, Guilhermino Monteiro, que dirige o Grupo com origem na Escola Secundária José Macedo Fragateiro, "devemos construir um futuro melhor para nós e para os nosso filhos, mas sem esquecer o passado".
Com um reportório assumidamente no espírito de Abril, o grupo interpretou a música tradicional e popular de raiz urbana e rural que o vem caracterizando, trazendo à memória apontamentos musicais marcantes que o próprio Canto Décimo tem sabido contribuir para preservar e inovar, a exemplo da coreografia no tema "Maria da Fonte".
Às obras musicais de José Afonso, José Mário Branco ou João Lóio, foram acrescentado um ciclo de "canções heróicas" de Fernando Lopes Graça, que Guilhermino fez questão de lembrar a forma indigna como o regime derrubado em Abril tratou o músico, ao ponto de ter de vender partituras para sobreviver. O autor de a "Jornada" com que o Canto Décimo levantou de um palco à sua dimensão, "vozes ao alto, unidos como os dedos da mão" arrebatando um prolongado aplauso de pé, para terminar a evocação de Abril, com "Grândola Vila Morena", igualmente de pé, com uma plateia de diferentes gerações que, de forma acessível e bastante agradável, assistiram e participaram numa "aula" ou na "revisão de matéria" de um inesquecível dia da nossa história contemporânea.”
José Lopes


A canção:

Partindo de um registo sonoro (ao vivo) de um concerto do Grupo Vocal Canto Décimo, no Centro de Arte de Ovar - a 25 de Abril de 2010 -, partilhámos agora esta memória (nossa e de todos). Esta canção (quase um hino!) - "Grândola, Vila Morena" -, que foi senha do avanço da Revolução dos Cravos a 25 de Abril de 1974, tinha já sido gravada por José Afonso nos idos de 71.

terça-feira, 27 de abril de 2010

É deste tipo de imagens que a memória se faz



(a propósito das comemorações do 25 de Abril na baixa do Porto)


É deste tipo de imagens que a memória se faz:

Um mar de gente ondulando ao som de um hino que traz à garganta o coração e se faz ouvir em vozes embargadas pela comoção de ser português – e ser livre!


Como se a liberdade andasse há muito entalada numa voz, à espera que outras se lhe juntassem para que houvesse força bastante que a fizesse merecer ser liberdade cantada.


Um mar de gente iluminada por luzes da festa que se faz para não esquecermos que há valores a defender, mas também angústias que não se podem calar!

Há imagens que não se esquecem quando, de braço dado com outros homens e mulheres, se canta uma mesma canção a tantas vozes que se unem como as vontades e, nesse momento, todos sonhámos com actos grandiosos.

Tudo vem da força de uma canção que dá voz a muitos anseios: de paz, de liberdade, de vida!

E sabemos que cantámos o que outros já cantaram. Queremos ter essa voz ou, quando os outros já não podem cantar, queremos emprestar-lhes a nossa voz. Para que a canção nunca morra!

É aí que, para além de todas as diferenças, vemos no outro um outro eu e a sociedade dá lugar à lealdade, não por uma ideologia, mas por um ideal.

E quando nos vemos vacilar, ou estamos prestes a corromper esse ideal, são estes momentos que nos impedem e nos convencem, por lealdade aos que já cantaram connosco uma mesma canção.


É deste tipo de imagens que um ideal se faz.


Porque não queremos trair a nossa canção!


quinta-feira, 22 de abril de 2010

Comemorações do 25 de Abril (Porto 2010)




















A cidade do Porto (e arredores) já anuncia as comemorações de mais um 25 de Abril, agora com a participação do nosso Canto Décimo.


É honra bastante para um percurso já de 13 anos, este sentimento que a propagação de cartazes vai anunciando, agora que o nosso canto deixa (a também honrosa) cidade de Ovar, que viu nascer este grupo, para passarmos a uma escala assumidamente nacional.


A causa: cantar Abril!


Gui

Gui
Que seria de nós... sem gui

Direcção Artística

Guilhermino Monteiro

É licenciado em História pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto e estudou no Conservatório de Música da mesma cidade.
Integrou vários agrupamentos instrumentais e vocais, de que se destacam a Banda dos Mineiros do Pejão, a Banda Musical de Gondomar (Antiga Monteiro), de que foi Director Artístico, o Coral de Letras da Universidade do Porto, o Coro da Academia de Amadores de Música, de Lisboa, onde trabalhou com Fernando Lopes Graça e o Coro Madrigália, do Porto.
Fundou e dirigiu, durante oito anos, o Grupo Vocal Canto Nono, tendo oportunidade de trabalhar e gravar interpretação de jazz vocal com Ward Swingle, fundador dos Swingle Singers.
Gravou vários CD’s, como cantor e instrumentista, com Sérgio Godinho, José Mário Branco e João Lóio, com quem tem realizado numerosos concertos.
Entre 2004 e 2006, foi adjunto do Maestro Borges Coelho, na Direcção Artística do Coral de letras da Universidade do Porto.
É frequentemente solicitado por diversas companhias de teatro, nomeadamente, TEP, SEIVA TRUPE e ENTRETANTOTEATRO, de Valongo, para preparação de actores na área da voz.
É autor de “O Professor e a Voz”, trabalho editado pelas Edições ASA.
Em Outubro de 1997, fundou, no âmbito do trabalho escolar com alunos, o Grupo Vocal Canto Décimo, da Escola Secundária José Macedo Fragateiro, de Ovar, de que é, desde então, Director Artístico.

Quem Somos?

O “Canto Décimo”, grupo Vocal da Escola Secundária José Macedo Fragateiro, de Ovar, iniciou a sua actividade, em Outubro de 1997, informalmente, no âmbito das actividades escolares de uma das turmas de alunos desse ano lectivo e por iniciativa do professor Guilhermino Monteiro. Cedo, porém, se juntaram outros professores.
Em Dezembro desse ano, o Grupo apresenta-se, pela primeira vez, num concerto de Natal, na própria Escola. A originalidade desta actuação proporcionou a motivação para a continuidade do grupo que passou a actuar em várias actividades escolares, tais como as da então denominada área-escola, iniciativas de professores estagiários, festas de Natal e outras.
O conhecimento da existência do grupo por parte da sociedade local, levou-o a ser solicitado para concertos fora da Escola, passando a actuar noutras escolas e em actividades promovidas por diversas instituições, associações locais e pela própria Câmara Municipal de Ovar, em diversas iniciativas.
No ano de 2003, viu reconhecida a qualidade da sua prestação artística, ao estabelecer um protocolo de colaboração com a autarquia que, desde então, lhe atribui um subsídio anual.
Actualmente, conta com cerca de 70 concertos realizados.
De entre as suas actuações destacam-se: o concerto de abertura do Congresso do Sindicato dos Professores do Norte, em Novembro de 2003, onde actuou perante cerca de mil pessoas, entre Delegados e Convidados, integrando-se num espectáculo multidisciplinar com música (“Canto Décimo” e João Lóio), dança e poesia (“Sindicato da Poesia”, de Braga) e os concertos realizados em Ponta Delgada, em Abril de 2006, a convite do Grupo Coral da Escola Secundária Antero de Quental, daquela cidade.
O Canto Décimo interpreta essencialmente música portuguesa, num leque tão variado que vai desde a música tradicional até à música popular de raiz rural e urbana, com destaque para José Afonso, José Mário Branco e João Lóio.
Como forma de preparar o seu décimo aniversário, o Canto Décimo encontra-se em fase de gravação de um CD, onde ficará registada uma parte significativa do seu actual reportório.
É constituído, actualmente, por 28 professores.