(a propósito das comemorações do 25 de Abril na baixa do Porto)
É deste tipo de imagens que a memória se faz:
Um mar de gente ondulando ao som de um hino que traz à garganta o coração e se faz ouvir em vozes embargadas pela comoção de ser português – e ser livre!
Como se a liberdade andasse há muito entalada numa voz, à espera que outras se lhe juntassem para que houvesse força bastante que a fizesse merecer ser liberdade cantada.
Um mar de gente iluminada por luzes da festa que se faz para não esquecermos que há valores a defender, mas também angústias que não se podem calar!
Há imagens que não se esquecem quando, de braço dado com outros homens e mulheres, se canta uma mesma canção a tantas vozes que se unem como as vontades e, nesse momento, todos sonhámos com actos grandiosos.
Tudo vem da força de uma canção que dá voz a muitos anseios: de paz, de liberdade, de vida!
E sabemos que cantámos o que outros já cantaram. Queremos ter essa voz ou, quando os outros já não podem cantar, queremos emprestar-lhes a nossa voz. Para que a canção nunca morra!
É aí que, para além de todas as diferenças, vemos no outro um outro eu e a sociedade dá lugar à lealdade, não por uma ideologia, mas por um ideal.
E quando nos vemos vacilar, ou estamos prestes a corromper esse ideal, são estes momentos que nos impedem e nos convencem, por lealdade aos que já cantaram connosco uma mesma canção.
É deste tipo de imagens que um ideal se faz.
Porque não queremos trair a nossa canção!
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